Finlândia: a perspectiva de um imigrante filipino
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Ser expatriado na Finlândia é uma experiência reveladora. Mas a mudança é grande para quem vem de um país tropical, com outra cultura. Leva tempo para se adaptar ao estilo de vida finlandês. Leia como nosso colaborador filipino viveu a transição de um país quente e populoso para o tranquilo Norte. No artigo, ele descreve as diferenças entre as culturas finlandesa e filipina e relata suas experiências com a vida na Finlândia.
Neste Artigo
Já se passaram mais de dois anos desde que me mudei das Filipinas para a Finlândia. Como imigrante asiático, percebi muitas diferenças ao começar uma nova vida no exterior. Por isso decidi escrever este artigo, refletindo sobre este marco de dois anos com base nas minhas experiências ao longo das últimas 130 semanas. Antes de mais nada, agradeço por dedicar um tempo para ler o meu blog e espero que seja útil para quem pretende visitar ou talvez esteja a considerar mudar-se para cá.
Ainda tenho vivo na memória o momento, lá no ensino fundamental, em que ouvi falar da Finlândia pela primeira vez. Lembro nitidamente que o primeiro telemóvel Nokia que usei (era do meu tio) foi fabricado na Finlândia. Desde então, fiquei curioso para que serviam as letras ä e ö no teclado daquele telemóvel. Pelos livros de história entendi que este belo país fica no continente europeu, que eu sempre imaginei como um destino fascinante. Desde então, sonhei um dia visitar, não necessariamente a Finlândia, mas algum país europeu. Só em junho de 2013 soube que a empresa finlandesa de saúde Attendo chegaria à nossa cidade e contrataria enfermeiros. O meu sonho de pisar na Europa começou a ganhar forma assim que enviei a candidatura. Seguindo em frente, felizmente consegui vencer os exigentes procedimentos de seleção. Finalmente, tivemos de fazer um curso intensivo de finlandês básico que durou quase 6 meses, conduzido por duas excelentes professoras de língua finlandesa. No início de maio de 2014, a empresa confirmou o nosso voo para a Finlândia e, um mês depois, no verão de 2014, chegámos enfim à Finlândia.
Como um expatriado na Finlândia vê o povo finlandês?
Estar num novo ambiente traz um certo entusiasmo. Também pode chocar ou até soar estranho, sobretudo quando as normas sociais diferem das que conhecemos. Seja como for, essas diferenças ajudam-nos a crescer dia após dia. Ao longo destes dois anos na sociedade finlandesa, fui aprendendo aos poucos como são os finlandeses.
Os finlandeses não viram seus melhores amigos da noite para o dia; confiança e paciência contam muito. Normalmente você não cumprimenta desconhecidos na rua. Isso é aceitável quando você é cliente, por exemplo ao pagar as compras no caixa: pode dizer Moi! Hei (Olá!) e esperar que o atendente responda. Sorrir para pessoas aleatórias na rua pode soar esquisito para os finlandeses. É uma grande diferença em relação à nossa cultura, onde cumprimentamos novos conhecidos com alegria e sorrisos largos. Isso é especialmente comum entre filipinos que trabalham ou visitam o exterior, quando cumprimentamos outros filipinos como se já nos conhecêssemos.
No começo da minha estadia, notei rapidamente que os finlandeses são reservados e tímidos. Pode confundir um recém-chegado ou turista quando um local prefere ficar em pé em vez de sentar ao seu lado num banco quase vazio do metrô, ou ficar do outro lado da paragem de autocarro enquanto espera pelo autocarro. Dentro do transporte público, alguém pode preferir viajar em pé por algumas paradas a sentar-se junto de você. No refeitório, é comum escolher a ponta da mesa. Perguntei diretamente a colegas e amigos finlandeses durante uma viagem de ônibus. Eles disseram: ¨Para os finlandeses, o espaço pessoal é muito importante, e geralmente nos sentimos desconfortáveis ou desconfiados quando alguém fica perto demais¨. Isso transmite a ideia de que quem eles deixam chegar mais perto é, de algum modo, especial. Então, se você tiver a sorte de entrar na zona de conforto de um finlandês, pode sentir-se um pouco orgulhoso. Mais ainda, é sorte maior conseguir tirar uma selfie com um finlandês disposto, porque, pelo que observei, eles são ainda mais tímidos diante da câmera. Para a maioria dos filipinos, fotografar é a forma mais natural de guardar bons momentos com amigos, família e pessoas queridas.
Os finlandeses são prestativos e colaborativos. Quando você faz amizade com um finlandês, pode esperar que ele o trate como parte da família. Eles oferecem ajuda como puderem. Desde o início, no local de trabalho, colegas e empregadores finlandeses nos apoiaram de forma constante, com o objetivo comum de melhorar o finlandês dos colegas filipinos. Ao mesmo tempo, sempre nos fizeram sentir bem-vindos na equipa, exemplificando o conceito de 'yhteistyö' (trabalho colaborativo), um princípio que ajuda a tornar a Finlândia um dos melhores países do mundo. Quando precisámos mudar de apartamento, uma colega ajudou voluntariamente com a candidatura para o novo arrendamento. Na Finlândia há concorrência entre potenciais inquilinos, e costuma ser difícil para estrangeiros serem priorizados. Com a ajuda dessa colega, a quem às vezes chamávamos de ‘Suomalainen äiti’ (mãe finlandesa), conseguimos o novo apartamento. A ajuda continuou quando outro colega, ao saber da mudança, ofereceu-se imediatamente para transportar nossas coisas, especialmente os móveis. Uma boa amiga fez o mesmo; graças aos carros deles, tudo chegou ao novo lar. Também aprendi que cada colega de trabalho é visto como parte da família: há surpresas em cada marco da vida (casamento, aniversário, chegada de um filho etc.). O apoio é ainda mais visível nos momentos difíceis, como a perda de um familiar. Um dos acontecimentos mais marcantes e surpreendentes foi quando organizaram uma festa de formatura para nós três filipinos, além do apoio espontâneo durante o período de estudos que nos levou a graduar como lähihoitaja.
No meu trabalho, aprendi como os finlandeses valorizam a pontualidade. É muito indelicado chegar atrasado ao trabalho ou a uma reunião, embora situações de emergência sejam compreensíveis. Nesses casos, espera-se que você ligue e avise com antecedência que não chegará a tempo ou que não poderá comparecer. Sou grato por ter adotado essa ética, que levo para todas as ocasiões. Nas Filipinas, a impontualidade e começar coisas tarde sempre fizeram parte da nossa cultura — um problema tão grande que ganhou até um rótulo, o Filipino Time, expressão cunhada por americanos no início dos anos 1900 pela irritação com a falta de pontualidade dos filipinos. Esse problema é atribuído ao trânsito caótico e ao transporte público precário e, infelizmente, à nossa aceitação do termo como marca. É quase impossível erradicar completamente o atraso, enraizado na cultura e na literatura. Não podemos culpar tudo no Filipino Time; precisamos combater a impontualidade como um rótulo nosso. Devemos reconhecer que muitas vezes é falta de disciplina e de respeito pelo tempo alheio — dois hábitos que podemos mudar começando por nós mesmos. Mais uma vez, sou grato pela oportunidade de viver na sociedade finlandesa, onde aprendi a levar a pontualidade a sério.
O mesmo valor se aplica a festas ou visitas: nunca ir sem convite é uma regra básica da cultura finlandesa. Em contraste com as Filipinas, onde é apreciado aparecer mesmo sem avisar, e os anfitriões ainda agradecem pela “boa surpresa”.
Os finlandeses são muito honestos. Num artigo publicado pela Business Insider (24 de setembro de 2013), a Reader’s Digest fez um experimento “perdendo” carteiras em 19 cidades e descobriu que, em Helsinque, capital do país, 11 de 12 carteiras foram devolvidas. Certa vez, eu e amigos filipinos saímos para uma caminhada e acabámos numa loja de segunda mão chamada Kontti. Cerca de 10 minutos depois de entrar nessa loja gerida pela Cruz Vermelha Finlandesa, notei que minha carteira tinha sumido. Ali estavam todos os meus documentos importantes, inclusive cartões do banco. O que mais me preocupou foi ter perdido o cartão de residência — tínhamos chegado há apenas 2 meses. Requerer outro seria complicado, primeiro pela pouca habilidade em finlandês e, segundo, por não ter dinheiro extra para a taxa. Felizmente, uns 5 minutos depois, um número desconhecido ligou. Do outro lado, uma voz calma e simpática de uma mulher, com um inglês quase perfeito. Já senti alívio antes mesmo de saber o motivo da chamada. Para minha surpresa, ela perguntou onde poderia me encontrar para devolver a carteira. Meus amigos estranharam quando saí às pressas enquanto ainda falava ao telefone. Encontrei aquela mulher de bom coração à frente de um cinema, a uns 150 metros dali. Ela me entregou a carteira sorrindo e disse que a tinha encontrado na rua, no mesmo caminho por onde passámos. Sem hesitar, segurei firme a sua mão direita com as duas mãos e, com meu sotaque pouco fluente, disse: ‘Kiitos paljon, Colette tosi ihana ihminen!’ (Muito obrigado, você é uma pessoa maravilhosa!). Peguei algumas notas para agradecer pela honestidade, mas, de imediato, essa mãe de um bebê de um ano no carrinho ao lado recusou. Sorriu e disse: ¨' No thanks, We’ve got to go and have a nice evening!¨ Aquele momento me deu uma ótima impressão: os finlandeses são muito honestos. Poucas vezes, dentro de autocarros, vi pessoas devolverem ao motorista telemóveis esquecidos, que os motoristas encaminham ao Suomen löytötavarapalvelu, o Serviço de Achados e Perdidos da Finlândia. Se você perder algo no transporte público, é aconselhável contactar o escritório a partir das 16h do dia seguinte à perda. Dá para ligar, enviar fax ou preencher um formulário online. O serviço cobra uma taxa pelos itens recuperados.
Os finlandeses amam a natureza. Muito! Ao olhar pela janela do avião, antes de pousar neste país do extremo norte da Europa, é impossível não notar as florestas densas e os muitos lagos. A Finlândia é o país mais florestado da Europa e, segundo o Environmental Performance Index (EPI) 2016, o país mais “verde” do mundo. Cerca de 70% do território é coberto por árvores, em sua maioria coníferas. Nada disso é por acaso: geração após geração, os finlandeses protegem a rica flora e fauna do país. Por exemplo, dirigir aqui exige atenção a alces, veados e renas na estrada. Se vir algum desses animais, reduza a velocidade e, se necessário, pare o veículo. Buzinar raramente adianta. Em caso de colisão, é obrigatório avisar a polícia. É assim que respeitam a vida animal. Aliás, os finlandeses adoram cães — quase toda casa tem um, muitas vezes mais de um, de raças variadas. O respeito aos direitos dos animais é alto por aqui.
O governo finlandês há muito tem um papel central na silvicultura, regulando o corte de árvores e definindo planos de longo prazo para garantir o abastecimento das indústrias de processamento de madeira. As florestas têm sido vitais para a economia, tornando o país um dos maiores produtores mundiais de madeira e papel. Da próxima vez que você imprimir um documento, é bem provável que use papel fabricado na Finlândia. É triste que, sendo tropical, as Filipinas sofram com o calor extremo, agravado pela degradação florestal causada pelo corte irresponsável de árvores. Muitos políticos gananciosos não priorizam a proteção ambiental, preferem projetos de comercialização que beneficiam mais a si mesmos do que a natureza. Não surpreende que o meu país, tão populoso, sofra efeitos diretos das mudanças climáticas globais: eventos extremos que causam grandes perdas na agricultura, deslizamentos de terra, ar poluído por cortes ilegais e assim por diante. Já a Finlândia leva a sério a proteção da Mãe Natureza. O relatório do EPI indica que o país tem metas concretas e indicadores mensuráveis de desenvolvimento sustentável. A Finlândia vai muito bem em impactos sobre a saúde, água e saneamento, biodiversidade e habitats. Nos supermercados, há pontos de recolha de garrafas plásticas e latas de cerveja. No país, 9 em cada 10 garrafas plásticas retornam para reciclagem e quase 100% das garrafas de vidro também são recicladas. E sim, cada sacola plástica pedida no caixa custa alguns cêntimos. Graças a regras rígidas de gestão de resíduos, as pessoas praticam reciclagem e separação correta do lixo, reduzindo a quantidade diária de resíduos em cada casa. Como resultado, desfrutam de rios, lagos e reservas subaquáticas limpos. A Finlândia é conhecida pelo fácil acesso a água potável. A água fria de qualquer torneira, até nas casas de banho, é segura para beber. Se você vier, terá a sorte de respirar o ar de alta qualidade do país, classificado em 2016 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o terceiro mais limpo do mundo.
Os finlandeses amam a sauna. Uma parte indiscutível da cultura finlandesa é a sauna tradicional. Historicamente, a sauna esteve presente da vida ao luto. Mulheres davam à luz na sauna, considerada o cômodo mais limpo da casa. Era também o lugar de rituais de purificação antes do casamento. Os corpos dos mortos eram lavados e preparados para o enterro nos bancos de madeira. Hoje, isso já não se pratica. Atualmente, a sauna é sobretudo para o bem-estar: é um lugar de relaxamento, quase sagrado. Por isso, entrar nu não tem conotação maliciosa. Não se usam roupas ou maiôs — assim como no banho, o corpo inteiro precisa ser bem limpo. Pode ser difícil para estrangeiros, e alguns locais — não todos — podem dizer diretamente aos não conformes, com sinais claros: ‘No underwear please’. Claro, há áreas separadas por género, a não ser para membros da mesma família. Admito que é difícil para asiáticos como eu, de um contexto mais conservador, em que a nudez em público não é tolerada. Na primeira vez, foi muito desconfortável. Convidar amigos filipinos para ir à sauna juntos também era complicado pelo mesmo motivo. Aos poucos, porém, aprendi a respeitar e a seguir essa etiqueta finlandesa.
Uma sauna finlandesa tradicional pode parecer quente demais na primeira experiência — a temperatura varia de 70 a 130 ºC —, mas nos bancos mais baixos faz menos calor. Saunas elétricas são comuns hoje, tanto em casas quanto em espaços públicos. Mas as minhas favoritas são as duas saunas a lenha e as três saunas de fumaça nos chalés de verão, porque o vapor é mais suave e húmido. Se você estiver sentado ao lado do balde de água, tenha a gentileza de jogar água nas pedras e reabastecer o balde ao sair, por cortesia com quem fica. Talvez você esteja a pensar que o que disse sobre finlandeses serem tímidos e calados não vale na sauna. Surpreendentemente, algumas pessoas puxaram conversa comigo ali, começando em inglês e perguntando de onde eu era. É comum ver finlandeses tagarelas nessa sala de vapor, contando até histórias pessoais. O filme finlandês Miesten Vuoro explica bem isso: cada personagem narra de forma intensa suas vivências aos outros. Eles podem falar de temas atuais, mas, se for conversar, evite assuntos como cargo, título ou religião. Morando aqui há mais de dois anos, fui-me habituando a ir às saunas das piscinas públicas 2 a 3 vezes por semana. Para mim, é uma forma eficaz de me renovar depois de um dia de trabalho. Saio sempre relaxado. Além disso, há benefícios à saúde comprovados por pesquisas finlandesas, sugerindo que a sauna pode reduzir o risco de demência e Alzheimer e de morte por doenças cardíacas. (Veja o nosso link sobre sauna) Se quiser sentir um pouco do que é ser finlandês, faça o que eles adoram: ganhe confiança e visite a sauna durante a sua estadia na Finlândia!
Idioma
Na Finlândia há duas línguas oficiais: finlandês e sueco; apenas cerca de 5% da população são finlandeses de língua sueca. Se você vier a turismo e falar inglês, não precisa se preocupar: a maioria dos finlandeses fala bem ou, pelo menos, entende inglês. Já para trabalhar aqui, é necessário o finlandês para conseguir permanecer a longo prazo. A maioria dos empregadores exige o idioma, a menos que você atue em empresas internacionais onde se usa outra língua. Trabalhar na Finlândia significa precisar estudar finlandês. Muitos organismos financiados pelo governo oferecem cursos gratuitos para imigrantes. Ainda me lembro bem dos primeiros 6 meses de integração sabendo pouco finlandês. Tivemos cinco meses de aulas no meu país antes de vir. Percebi logo que saber finlandês escrito não basta para conversar com nativos, porque há a linguagem falada — algo que, para iniciantes, é difícil de compreender. A pronúncia precisa ser correta, senão você pode ser mal-entendido. Um exemplo clássico é Minä tapan sinut (Eu vou matar-te) vs. Minä tapaan sinut (Eu vou encontrar-te) — palavras quase iguais com significados diferentes. Mas não se preocupe: com o tempo você melhora dia após dia (pikkuhiljaa, como dizem os finlandeses). Um bom amigo finlandês sempre me disse: Os finlandeses vão entender você, então não ligue se a gramática não sair perfeita. Colegas incentivavam a falar em finlandês (até com outros filipinos ou imigrantes no trabalho) porque queriam que aprendêssemos. Concordo: prática leva à melhoria — aqui, melhor do que “perfeição”. Na minha opinião, levam-se décadas para dominar uma das línguas mais difíceis do mundo! (A menos que você seja da Estónia, cuja língua é muito parecida.) Posso soar um pouco amargo com o finlandês, mas uma coisa é certa: como requer prática contínua, primeiro aprenda a gostar do idioma, e verá o progresso a cada dia. Nada é impossível.
Estações e a melhor época para visitar a Finlândia?
Na Finlândia há quatro estações bem distintas. Se você puder escolher quando vir, a melhor época depende das atividades que mais lhe interessam e das regiões que deseja visitar.
Inverno
Há bastante variação conforme a região do país. A temporada de neve na Lapónia, no norte, começa em novembro e vai pelo menos até maio. Estive lá em novembro e aprendi que o lugar é considerado o paraíso invernal da Finlândia. Dá para sentir o espírito mágico do Natal o ano todo. A Aldeia do Pai Natal, em Rovaniemi, capital da Lapónia, é imperdível. Tive a oportunidade de conhecer o Pai Natal “real” — e não se preocupe se você não fala finlandês, ele se comunica bem em inglês. Se estiver com energia, aproveite atividades emocionantes como mota de neve, trenó com huskies e passeios de rena. Um bar de gelo recém-aberto no mesmo local oferece uma experiência diferente de inverno. Além disso, a Lapónia é a melhor região para tentar ver a Aurora Boreal. Noites limpas são ideais para avistar o fenômeno. Há aplicações como o Aurora Forecast que costumam prever com precisão quando e onde o espetáculo será visível. Pela abundância de neve e terrenos variados, a Lapónia é famosa para esqui e snowboard.
No centro e no sul da Finlândia, a primeira neve cai no início de dezembro e derrete entre o fim de março e abril. As temperaturas de inverno podem chegar a -41 ºC na Lapónia (registo mais frio em 5 de janeiro de 2017), enquanto na Região dos Lagos (leste) e nas áreas lacustres ocidentais variam entre -5 ºC e -20 ºC. O sul e a costa ficam mais amenos e têm menos neve devido ao efeito de aquecimento do Mar Báltico. Independentemente do tempo, as cabanas de férias finlandesas são quentinhas: têm aquecimento central, piso aquecido, lareira a lenha e, claro, sauna! No geral, os dias revigorantes de inverno convidam a admirar árvores e lagos congelados em qualquer parte do país. Além disso, pesca no gelo, patinagem e mergulhos em lagos congelados também são populares.
Vindo de um país tropical, uma das maiores dificuldades foi enfrentar o inverno dia após dia. Dentro dos edifícios não há problema, pois são bem aquecidos. O período mais escuro é no fim de dezembro: no norte, há cerca de 0 horas de luz do dia; no sul, cerca de 6 horas. Felizmente, a neve branca reflete muito bem a pouca luz, deixando o ambiente externo mais claro. Nesses meses escuros, é altamente recomendável usar refletores pela sua segurança, já que motoristas podem não notar você — um autocarro em aproximação, por exemplo, pode não vê-lo de longe. E, sobretudo, vista-se bem quente lá fora: o frio entra nos ossos! Não se surpreenda se notar finlandeses aparentemente imunes ao frio. Eles costumam vestir roupas bem pesadas e acessórios de inverno quando o termómetro cai para -20 ºC :) Talvez já estejam adaptados — e isso é algo bem único por aqui :)
O Transtorno Afetivo Sazonal (SAD) pode atingir qualquer um nesta fase cinzenta. Eu mesmo, no primeiro inverno, senti uma mudança séria de humor com a transição do outono para o inverno. Podem surgir sintomas como sentimentos de desesperança e desvalia, perda de interesse, dificuldade de concentração e de decisão, isolamento social, alterações de apetite e sono, falta de energia ou agitação, diminuição da libido e, em casos piores, pensamentos suicidas. Procure um médico se notar qualquer um desses sinais. Estes métodos de prevenção podem ajudar a combater o início do SAD https://www.prevention.com/mind-body/effective-solutions-seasonal-affective-disordera.
Primavera
É uma delícia receber o sol da primavera em abril, quando a natureza volta a florescer. Os dias alongam rapidamente e ficam mais quentes. Exceto na Lapónia, as temperaturas sobem para acima de zero no fim de abril em todo o país. A primavera é ótima para percorrer percursos e testemunhar o despertar da natureza após o sono do inverno. É muito bom pedalar e começar a ver os brotos nas árvores e flores, e caminhar por florestas e campos impecáveis. Caminhadas são especialmente populares porque o ar é fresco e a temperatura é amena. A primavera vai até maio.
Verão
Cheguei no início do verão de 2014 e, de cara, estranhei chover no verão; depois aprendi que é normal o verão finlandês ter períodos de chuva. Em países tropicais como as Filipinas, o verão é sempre seco e ensolarado. A cada ano o verão finlandês varia: os finlandeses chamam de ‘hyvä kesä’ (verão bom) quando faz calor suficiente ao longo da estação, que termina em agosto. As temperaturas costumam ficar entre +15 ºC e +25 ºC. O verão é a estação do Sol da Meia-Noite, quando as noites são claras. Na Lapónia, por dois meses — de junho a julho —, o sol não se põe! Por isso a Finlândia é chamada de terra do sol da meia-noite. No restante do país, o sol fica abaixo do horizonte por apenas algumas horas.
Os finlandeses adoram o sol; você os verá a apanhar sol em qualquer espaço aberto, deitados nas praias para garantir uma dose extra de vitamina D. E usar guarda-chuva para se proteger do sol não é bem-vindo (aqui é para a chuva; nos trópicos, o guarda-chuva protege dos raios fortes). Aqui podem achar isso estranho.
No verão, há muitos eventos. Talvez o mais popular seja o Midsummer (Véspera de São João). A tradição acontece no primeiro sábado após 19 de junho. É um fim de semana de churrasco, banho de lago, bebida, histórias, canto e dança. No ano passado, em Helsinque, passei o Midsummer com moradores na Seurasaari, uma ilha arborizada com um museu ao ar livre de edifícios históricos. Lá há artesãos à moda antiga, jogos tradicionais como puukävely, músicos tocando kantele (o instrumento nacional, parecido com uma harpa), panquecas e salsichas bem passadas. No final, acendem uma grande fogueira e um casal recém-casado dá uma volta num antigo barco de madeira.
Em julho, quando dias e noites são ainda mais quentes e claros, eu costumava nadar com amigos em lagos de água doce. Um dos meus favoritos é o Saksijärvi, em Nurmijärvi, 46 km a noroeste de Helsinque. Segundo um estudo, é um dos lagos mais limpos da Finlândia, com areias brancas perfeitas para apanhar sol — algo que confirmo por ir lá com bastante frequência.
Férias em cabanas no verão são muito populares. Muitos finlandeses escapam para o campo para relaxar com quem amam à beira de lagos frescos, limpos e revigorantes. É um prazer refugiar-se nos chalés à beira do lago (kesämökki). Passeios de barco ou canoa, pesca, churrasco, natação e a inevitável sauna finlandesa tradicional são maneiras perfeitas de passar o verão com amigos e família enquanto se desliga à beira da água. Eu costumava fazer churrascos tarde da noite com amigos, observando o pôr do sol refletido nas paisagens finlandesas. Daqui a alguns meses, estou entusiasmado para voltar a esses lagos, longe do corre-corre da cidade.
O verão também é a época de colher frutos silvestres na floresta — uma tradição antiga entre famílias. Em julho, eu e bons amigos costumávamos apanhar os recém-aparecidos mirtilos, arandos, amoras árticas, framboesas, lingonberries e cogumelos, todos muito presentes na dieta finlandesa. A Finlândia tem direitos universais de acesso à natureza que permitem a todos circular pelo campo, colher frutos e cogumelos e pescar com vara e linha, sem licença (isto último ainda não experimentei). Qualquer lucro com a venda desses produtos naturais é isento de impostos.
Outono
Depois do verão, o outono é a minha estação favorita, quando as folhas de diferentes árvores começam a ficar douradas, alaranjadas e vermelhas em setembro. No norte da Finlândia, o outono começa cerca de um mês antes do restante do país. Os finlandeses chamam esse espetáculo de "ruska": as cores tomam as florestas quase por inteiro. Quanto mais ao norte você viaja, mais dá para apreciar a natureza intacta — há mais florestas e menos vilas e cidades. O clima no outono é imprevisível: varia muito de um ano para o outro e até de um dia para o outro. Mas uma coisa costuma ser certa: é a estação em que mais chove. O outono traz também dias mais escuros e temperaturas em queda, quando a natureza se prepara para a nova neve do inverno seguinte. No outono, a temperatura média diária fica abaixo dos 10 ºC, embora também haja períodos de sol. O clima ameno torna a estação ideal para explorar percursos pedestres ou de bicicleta. Ainda é possível colher frutos e cogumelos, mas espere encontrá-los em menor quantidade.
Do norte ao sul, do leste ao oeste, você certamente vai aproveitar a estadia: cada região oferece atividades e atrações únicas. A Finlândia tem um sistema de transportes muito bom. Viajar de transporte público é fácil por aqui — e conhecido por ser fiável e seguro. Publicámos um artigo sobre transporte público; você pode conferir aqui.
Por hoje é isso. Obrigado pelo seu tempo e espero que este blog ajude a aproveitar ao máximo a sua visita ou estadia, sobretudo para quem é novo na Finlândia. Nas próximas publicações, quero contar mais sobre as minhas explorações pelo país, então fique de olho na nossa página.
Interessou-se pela Finlândia? Veja o nosso artigo com opções práticas de imigração para a Finlândia.